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Arquitetos: Estúdio Renan Merlin
- Área: 75 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:João Paulo Prado
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Fabricantes: Adhefix, Ailton Marcenaria, Beto Serralheria, Monofloor - Sem Juntas, Nova Luz Iluminação, REKA
"Para fora do imaginário" – essa foi a frase que marcou a transição da marca KATSUKAZAN do mundo virtual para o físico, no seu quinto ano de história, com a inauguração de sua primeira loja em Pinheiros, São Paulo. A marca curitibana de bolsas, com uma identidade visual forte e contemporânea, se posiciona como urbana, mas carrega consigo um profundo vínculo com o patrimônio da cidade, trazendo à tona um diálogo entre tradição e contemporaneidade. Apesar de sua estética tecnológica, com tecidos de lona e cores vibrantes, o conceito da loja se inspira nas casas antigas e no comércio de rua, refletindo uma nova forma de vivenciar o consumo. O local escolhido foi um sobrado dos anos 60, e a primeira premissa para o projeto foi preservar ao máximo as características originais da fachada: desde a porta em arco até as janelas do segundo andar e a varandinha frontal. A vitrine, que havia sido alterada por antigos proprietários, foi reinterpretada para oferecer duas experiências distintas: uma vitrine longilínea, à altura dos olhos, voltada para quem passa a pé; e uma estrutura circular, remetendo ao logotipo da marca, pensada para ser vista de longe e usada de maneira interativa, acompanhando as mudanças de temporada.
A entrada e a vitrine foram desenhadas e executadas artesanalmente em serralheria, pintadas de vermelho para destacar a fachada e dialogar com a identidade visual da marca. A fachada, pintada de off-white com tinta à base de cal, foi pensada para trazer um ar mais rústico, contrastando propositalmente com o interior da loja - um portal de transição. Internamente, o projeto enfrentou o desafio de regularizar os níveis entre a rua e o interior da casa, o que resultou na criação de um novo degrau na fachada, que também funciona como banco para a calçada, agregando uma função social ao espaço, especialmente durante os eventos noturnos da loja. O conceito interno foi concebido como um espaço contínuo, sem a tradicional separação entre parede, piso e teto, inspirado na fluidez dos tecidos usados na confecção das bolsas da marca. Expositores em diferentes níveis foram integrados à alvenaria, acompanhando a sequência dos degraus e com cantos suavemente abaulados. A materialidade da loja é definida por um revestimento de argamassa cimentícia colorida à base de polímero, em um tom verde pistache, desenvolvido exclusivamente para o projeto. Essa escolha cria um contraponto ao vermelho da marca, servindo como base neutra para a exposição dos produtos.
Foram incorporadas prateleiras em serralheria, além de araras e suportes de marcenaria, todos no mesmo verde, para manter a unidade visual. Refugos de mármore foram utilizados para a criação dos expositores, agregando uma abordagem ecológica ao projeto. Por fim, o teto da loja recebeu ladrilhos de espelho, promovendo uma sensação lúdica e ampliando a percepção do pé-direito e das dimensões do espaço. O resultado é um projeto que, embora de execução simples, se destaca pela inovação artesanal e pelo diálogo constante entre os profissionais envolvidos – arquitetos, fornecedores e a equipe de obra.